A maioria dos casos de violência contra as mulheres no Brasil acontece principalmente na casa das próprias vítimas. A afirmação consta no Anuário Brasileiro de Segurança Pública publicado neste mês de agosto.
Segundo o estudo, Mato Grosso, em 2021, era o 5º estado com a maior proporção de homicídios femininos classificados como feminicídio: 50,6% – atrás apenas do Distrito Federal (58,1%); Tocantis (55,13%), Rio de Janeiro (52,8%) e Santa Catarina (51,9%).
De acordo com a psicóloga e terapeuta Pollyana Tavares, que atende mulheres vítimas de violência há 10 anos, a maioria costuma procurar por ajuda como a de psicólogos, delegacias especializadas, juizados, terapias e etc apenas “no fim da linha”, quando as violências partem para o físico e não têm uma rede de apoio que forneça suporte especializado no enfrentamento da violência.
“Quando essas mulheres chegam aqui [consultório] elas já não têm mais ninguém. Elas não têm com quem contar, porque todo mundo já sinalizou para ela que é contra essa relação. Todo mundo já apontou, todo mundo já falou, então quando tem violência moral, por exemplo, que é algo mais público, explícito, alguém pode até ir lá e fazer uma denúncia”, explica.
Contudo, nos casos de violência psicológica, que apenas as mulheres podem dizer o que sentem sobre a relação em que estão, Pollyanna diz que as vítimas vão se fechando a ponto de acarretar em um silenciamento e afastamento do meio social.
Nesse contexto, a especialista explica que é importante a vítima constituir uma rede de apoio, que pode ser composta por profissionais da área da saúde, família e amigos de confiança. No entanto, a rede inicialmente trata-se de uma atendimento especializado que também a rede pública de saúde.
Como exemplo, Pollyanna cita as delegacias especializadas e a jurisdição, em que as leis de combate a violência contra a mulher evoluíram, porém precisam melhorar, observa.
“Às vezes [a mulher] precisa de um suporte psiquiátrico. Muitas vezes precisa para ela aprender a lidar com as emoções. Uma psicoterapia. Todo o suporte que a rede de saúde está disponível e quando a mulher vai buscar tem para ela. Nossa saúde é precária, mas nós temos o nosso Sistema Único de Saúde (SUS)”, pontua a profissional em entrevista ao GD.
Diante disso, na psicoterapia a mulher vai perceber que há necessidade de construir uma rede de apoio emocional, que é construir novos vínculos e ter ferramentas para construir um novo repertório emocional.
“Ela vai buscar se relacionar com pessoas que ela vá conseguir instalar esse repertório novo de comportamento, buscando novas amizades, novos hobbies e novos hábitos para o cotidiano da vida dela”, explica.
Em casos onde a mulher vem de um lar violento, Tavares descreve que a família “precisa buscar informação” para dar suporte à vítima.
“É muito angustiante para um pai, para a mãe, para o irmão ver uma pessoa querida vivendo numa relação totalmente disfuncional”, diz. “Não é culpa dessa família e nem culpa dessa pessoa, mas tem que ter esse cuidado, tem que ter muita empatia, muito amor, para você ser rede de apoio”.
Fonte: Gazeta Digital