A pesquisadora Loyane Almeida Gama Sales, de 31 anos, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) trabalha em uma descoberta que pode revolucionar o tratamento de queimaduras. O objetivo é desenvolver um curativo a base de borracha natural, babosa e própolis, potencializando os resultados e diminuindo os custos de um tratamento convencional.
“Fico muito animada de poder trabalhar em um projeto como esse e propor algo que tem potencial de chegar a pessoas que precisam de tratamento”, afirma.
A pesquisa está em fase experimental e faz parte de um projeto vinculado ao Programa de Pós-graduação em Imunologia e Parasitologia Basicas e Aplicadas, do Campus Universitário do Araguaia, em Barra do Garças.
Segundo a pesquisadora, a pele é composta por basicamente três camadas: a derme a epiderme e a hipoderme. Quando ocorre um ferimento por queimadura, há danos nessas diferentes camadas da pele, isso a depender da extensão da lesão.
“A perda dessa proteção física permite que microorganismos tenham acesso aos vasos sanguíneos, por isso são comuns quadros de infecção ao se falar em queimaduras”, explica a pesquisadora.
Fico muito animada de poder trabalhar em um projeto como esse e propor algo que tem potencial de chegar a pessoas que precisam de tratamento
Para o tratamento eficiente dessa lesão é necessária a presença de agentes que evitem a proliferação desses microrganismos e consequentemente das infecções.
O seguinte passo é considerado um dos mais importantes em um tratamento convencional: “a retirada das camadas danificadas da pele para permitir a reestruturação do local”. Esse é um dos principais pontos de avanço na descoberta da pesquisadora.
Dentro do protocolo de tratamento de queimaduras de até 2° grau os curativos são trocados diariamente, em certas situações até duas vezes por dia.
“Esse processo de higienização é muito importante para a cicatrização, mas acaba gerando incômodo e dor para o paciente. A ideia da membrana é desenvolver um curativo que não precise que essa troca seja feita todos os dias”, explica.
Em testes de pesquisas anteriores, feitas com ratos, o curativo chegou a ficar na pele por dez dias. “É uma vantagem muito grande”, diz. A expectativa, segundo ela, é criar um curativo seguro e estável que permaneça o maior tempo possível liberando, ao longo desses dias, as substâncias escolhidas incorporadas à membrana.
Nesse processo, o terceiro passo é a estimulação do crescimento de um novo tecido. A resposta ao tratamento, no entanto, também depende do local e do tipo de queimadura, que pode ser por calor, radiação, eletricidade ou substâncias químicas.
Propriedades
Cada um dos elementos selecionados pela pesquisadora apresenta propriedades importantíssimas, que podem potencializar os benefícios no tratamento de queimaduras.
A borracha natural, por exemplo, eleita como membrana base para o experimento, tem propriedades chamadas de angiogênicas. “É a capacidade de estimulação de vasos sanguíneos que melhora a resposta inflamatória”.
A própolis, por sua vez, tem capacidade antiinflamatória, antibacteriana e antifúngica. Segundo a pesquisadora, sua utilização já se mostrou eficaz para acelerar a cicatrização.
O novo elemento adicionado à formula – a babosa – é um fitoterápico, também com propriedades antiinflamatórias, já conhecido e usado em ferimentos de queimaduras. “A ideia é favorecer o processo de angiogênese e auxiliar na cicatrização”.
O estudo ainda está em fase experimental e, conforme a pesquisadora, o comportamento dos três componentes juntos ainda será avaliado.
A expectativa é que em 10 anos seja possível chegar a um produto final e pronto para a comercialização. Uma vez que todos os produtos utilizados são naturais e abundantes no meio ambiente, o custo mais baixo seria outro benefício.
Atualmente a pesquisa conta com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat). Para acelerar esse processo é fundamental que ao longo dos anos surjam novas parcerias. “Como pesquisador, a gente tem que ser resiliente. A gente não pode desanimar”.
Os primeiros passos
Apesar de estar em fase experimental e ainda ter um longo caminho a ser percorrido para a viabilidade de um produto final, os primeiros passos para essa descoberta tiveram início ainda em 2013.
Na época professora doutora Paula Cristina de Souza Souto, atual supervisora da pesquisa, já trabalhava no desenvolvimento de uma matriz que permitisse a incorporação de extratos de plantas.
Em 2019 o trabalho rendeu frutos e a pesquisa, que até então associava apenas a borracha natural e a própolis, foi publicado, demonstrando o potencial desses componentes.
A inserção da babosa nessa equação é uma continuidade desse trabalho e busca potencializar ainda mais os resultados obtidos até então.
Fonte: Mídia News